Funcionamento cerebral no processo de aprendizagem infantil


Uma das mais importantes revelações no campo da ciência aplicada à aprendizagem infantil – as quais se intensificaram a partir dos anos 90 – foram as descobertas acerca de como o cérebro infantil processa informações nos mais diversos contextos. O advento de recursos tecnológicos de neuroimagem (Ressonância Magnética Funcional, PET-SCAN, Tomografia por Emissão de Prótons e Tractografia) foram fundamentais para o estudo mais detalhado e elaborado da relação entre a ativação de regiões específicas e a correlação, em tempo real, com uma atividade qualquer realizada pela criança ou adolescente durante a confecção do exame. A inter-relação e os resultados observados permitiram aos estudiosos e especialistas saírem das hipóteses geradas nos anos 60 a 80 em direção a algumas certezas e evidências bem fundamentadas pela neurociência na aurora dos anos 2000-2010.
Especialmente no que tange à aprendizagem da leitura e da escrita, toda esta repaginação metodológica e consequente atualização, trouxeram uma visão bem mais clara no sentido de entender como funcionam os processos de aprendizagem por meio destas habilidades e quais habilidades cognitivas são mais significativas e protagonistas como mediadoras destes processos. Mais ainda: trouxeram de forma mais coercitiva e definitiva a ideia de que a leitura e a escrita são resultado mesmo de uma complexa e obrigatória integração de várias regiões cerebrais onde cada área é responsável por contribuir para uma etapa em paralelo e em sequência no sentido do cumprimento adequado de ambas as habilidades.
Esta revelação permitiu à comunidade científica fazer novas inferências e concluir novas hipóteses – desta vez mais concretas – acerca de como o cérebro aprende. Neste sentido, temos que a aprendizagem infantil depende de fatores genéticos e ambientais onde ambas, em intensa coexistência, influenciarão o como e com que eficácia este cérebro perceberá, integrará e elaborará informações, assim como todo este processo deve ocorrer para que novas memórias e novas aprendizagens mais complexas venham a acontecer. Muitas habilidades, mais básicas e melhor aprendidas em algumas idades, podem ser essenciais como requisito para novas e mais sofisticadas aprendizagens, como por exemplo, a aquisição de habilidade fonológica como ponto inicial fundamental para a compreensão de leitura dando pistas importantes para consensos e projetos direcionados às políticas de alfabetização.
Constantes trabalhos com estes atributos e instrumentos de pesquisa tem revelado que a falta de determinadas conexões neurofuncionais podem impedir que crianças consigam normalmente adquirir determinadas aprendizagens e possíveis déficits relacionados a estas áreas, geram, portanto, disfunções que podem resultar em transtornos de desenvolvimento e/ou de aprendizagem. Sabe-se hoje que a Dislexia, por exemplo, é resultado de um problema genético que leva a perda de conexões entre áreas responsáveis por processos de decodificação fonêmico-grafêmico, prejudicando a compreensão e fluência de leitura e, portanto, gerado por questões internas do cérebro e não do ambiente (o professor não pode ser responsabilizado por este fracasso!). Ao mesmo tempo, entendendo o que é e como funciona o cérebro de um disléxico, este professor pode fazer adaptações curriculares e otimizar os meios de avaliação para que esta criança expresse o seu potencial.
Assim, a contribuição cada vez mais ampla e exponencial da neurociência e de suas exposições no campo do funcionamento cerebral tem favorecido a era inclusiva, pois tem trazido novas concepções com meios mais eficazes de acesso às novas propostas didáticas facilitando a adoção de novos e criativos materiais, derrubando ou atualizando paradigmas e ajudando a permitir que mais crianças tenham sucesso acadêmico e que, enfim, novas tecnologias (simples ou mais aprimoradas) sejam incorporadas ao cotidiano das escolas e das famílias.
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