sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Audiência Pública : Câmara Municipal de Cachoeira Paulista Tema Síndromes e Transtornos de Aprendizagem Desafios do Século XXI




Palestrantes : 

  • Neuropediatra Drª Gisele Leal Xavier Pinto (Clínica Neurodoctor)- Lorena - SP
  • Psicóloga e Psicopedagoga : Aline Thainá de Carvalho Barbosa
  • Vereador de Lorena : Fábio Matos e Assessoria Parlamentar Graziela Staut
  • Graziele - Instituto Cacau - Lorena
Vídeo Defensoria Pública Doutora Renata Flores Tibyriça.

Defensoria Pública Drª Renta Flores Tibyriça



Defensora Pública Coordenadora dos Direitos do Idoso e da Pessoa com Deficiência
Direitos da pessoa com Autismo

Filme : Vida Animada

Indicação Drª Gisele Leal Xavier Pinto (Clínica Neurodoctor) - Lorena - SP
Filme : Vida Animada
SINOPSE E DETALHES
Owen Suskind, um menino autista que ficou sem falar por anos, é retirado aos poucos de sua solidão ao ser imerso em filmes animados da Disney. Toda a família se tornou personagens animados, se comunicando com Owen a partir de diálogos dos filmes e canções, até que ele se reconecta com a sua amorosa família, revelando que, em 
tempos mais difíceis, todos precisam de histórias para sobreviver.


Dica Drª Gisele Leal Xavier Pinto (Clínica Neurodoctor) - Lorena - SP

Você precisa saber .....
MÉDICOS AUTISTAS – MILHARES EM UM MILHÃO
Por Fatima de Kwant
Um recente artigo sobre autismo, publicado no DN Sociedade, em Portugal, chamou a atenção pelas alarmantes informações. No artigo, um renomado especialista da Associação Portuguesa para o TEA, afirma que “…são casos extremamente raros, raríssimos. Situações extraordinárias, uma em milhões”. Uma afirmação incorreta e perigosa, até. Incorreta porque sabe-se (fora de Portugal, talvez) que as pessoas autistas de alta funcionalidade, como os Aspergers, são aptos a exercerem quaisquer profissões às quais tenham dirigido seus hiperfocos – as habilidades em que focam seus talentos individuais; perigosa afirmação porque inibe a intenção de estudantes de medicina e médicos já estabelecidos, a falarem sobre seus autismos em público. São muitos, milhares em um milhão, à revelia do texto português.
Na Holanda, um país conhecido pela cultura e mentalidade flexível, existe um network de médicos, o ‘Artsen met Autisme’ ou ‘Médicos com Autismo’, em Português. Criado em 2016 pelo médico, o Movimento visa unir todos os médicos dos Países Baixos diagnosticados com autismo. Em 2014, a médica Els van Veen (1970, Amsterdam) foi diagnosticada com TEA. Ela já exercia a medicina há anos. A reação do seu circulo familiar,de amizades e do trabalho foi de incredulidade. Para contribuir com a conscientização, a Dra. Van Veen concedeu uma entrevista anônima ao Medisch Contact (Contato Médico) https://www.medischcontact.nl/…/ar…/Huisarts-met-autisme.htm. A entrevista originou centenas de feedbacks à redação, de médicos com o mesmo diagnóstico que a entrevistada.
Em novembro de 2016, foi lançado o site do Movimento. Cinco meses após, em abril de 2017, houve o Primeiro Encontro destes médicos.
A ideia obsoleta de que pessoas autistas com alta inteligência procurem profissões em Informátia e Tecnologia não é de todo correta. Cada vez mais há levantamentos no setor da saúde, comprovando a presença de autistas nas profissões de enfermeiros, médicos e cirurgiões.
A Dra. Van Veen é uma ativista holandesa que empenha-se em informar a classe médica (psiquiátrica) sobre as inconsitências que regem a perspectiva geral desta classe com respeito ao TEA.
“ Através do diagnóstico, eu obtive valiosas informações sobre eu mesma. Porém, como medica autista, descobri o efeito contrário que ainda predomina. Todos os tipos de especialistas conhecem e falam sobre o que artigos em revistas escrevem sobre a falta de empatia dos autistas. Isso não é legal quando você mesma tem este diagnóstico e trabalha como médica”, diz a profissional da saúde. Seguindo, ela conta: “Por causa deste estigma, muitos profissionais com alta graduação preferem não ser associados com o seus autismos.” Uma grande perda, sem dúvida.
Enquanto na Holanda o tabu vem sendo quebrado, em outros países médicos e outros profissionais ainda enfrentam uma grande barreira para serem respeitados como excelentes trabalhadores, apesar do diagnóstico dentro do TEA.
Uma das razões para a tal barreira é a falta de Conscientização em massa. No Brasil e em Portugal, por exemplo, o Espectro do Autismo ainda não parece ser compreendido em sua totalidade. As necessidades de um grupo com maiores limitações (autismo severo) são diferentes de outros grupos, com menores limitações na área da funcionalidade e na área cognitiva (autismo leve). Enquanto pais de autistas mais comprometidos sonham com políticas públicas que proporcionem tratamentos e assitência ao longo da vida de seus filhos, o segundo grupo sonha com sua independência e seus direitos como cidadãos que são, acima de tudo. Entre eles, encontram-se pessoas autistas ativas, empenhadas em colaborar para a quebra do estigma. Em ambos os casos, seus propósitos são legítimos e deveriam ser acatados como um direito humano em busca da merecida igualdade.
o caso do grupo que abordamos neste artigo, a classe médica, o desejo de clarificação diante da sociedade é grande, mas o medo do impacto negativo pela mesma – e pelos proprios colegas de profissao – ainda impera. O fato faz com que especialistas da Saúde Mental confundam-se a ponto de proferir frases estigmatizantes, não condizentes com a realidade.
Abaixo, alguns depoimentos de pessoas autistas adultas, profissionais de Medicina, Odontologia, Psicologia e Veterinária.
M.G.C., 49 anos, médico perito do INSS, socorrista do SAMU. Asperger.
Fui diagnosticado há dois anos, e me sinto bem melhor, agora. Sofri bullying na infancia e na epoca da faculdade quase ia desistir do curso de medicina por causa do bullying e tambem por causa da dificuldade da motricidade fina. Todos me achavam sitematico e meio diferente. Adoro futebol, mas tenho dificuldade de socializar.
Roberto Mendes, psicólogo, graduado em Psicologia Hospitalar e saúde mental. Rio de Janeiro.
Estou terminando uma terceira pós graduação, Neuropsicologia. Atuo na profissão há quatro anos, capacitando-me cada vez mais em psicopatologias, transtornos e síndromes. Realizo avaliações e ajudo em diagnósticos. Tenho hábitos estranhos, desinteresse no que a maioria das pessoas gosta… Durante minha vida ouvi pessoas dizerem: “você não sabe fazer nada!”. Foi aí que decidi a ajudar outras pessoas como eu. Fui técnico de enfermagem e neste período casei…Tenho depressão, ansiedade, hipersensibilidade sensorial e outras coisas mais, porém, mantenho o hiperfoco: ajudar pessoas que sofrem como eu.
Helen Clehr, quiroprático, Estados Unidos
Sou graduada em Medicina Quiroprática. Se a pessoa autista é verbalmente adaptada e seu interesse especial é o corpo humano, por que seria impossivel ser médica?… Minha motricidade fina não é boa, mas isso não me impede de sentir os ossos mais finos e pequenos no pescoço de um paciente, identificar por que não se movem apropriadamente, e restaurar o movimento do seu pescoço. Não saberia explicar como ou por quê, mas é assim.
John Beck, 53 anos, Asperger, Dr. At the State of Illinois Traumatic Brain Injury Program
Graduei-me aos 21 anos, fui para a Escola Médica de Combate do USArmy onde sobressaltei por meus servicos. Servi às forças da NATO, na Europa, onde fui condecorado com a medalha de Expert da Medicina de Campo – condecoração mais prestigiosa pela busca da paz. No momento, trabalho para o Estado de Illinois, no Centro de Trauma. Ainda salvo vidas como Médico Assistente Registrado há mais de treze anos.
A.C.D., estudante de Medicina, Asperger. Brasil.
Sou estudante da Faculdade de Medicina e sou autista. Pretendo ser excelente profissional, pois é minha alegria alcançar isso. As lutas de um autista são grandes, mas isso não impede de forma alguma de alcançarmos nossos sonhos: os sonhos que pretendemos.
Luciana Sant’Ana de Souza, 40 anos, odontologista e médica da Clínica Escola Mundo Autista, autismo leve. Casada com Márcio Pedrote de Carvalho, médico veterinário que, atualmente, estuda medicina. Brasil.
Fiz faculdade de Odontologia e Medicina para tentar entender o meu filho, que é autista. Meus maiores problemas durante a vida foram a socialização e dificuldade na quebra da rotina. Muita coisa na medicina e na odontologia exigem contato físico e questionamentos, o que me deixava muito desconfortável. Situações novas me desestruturavam, mas o próprio curso funcionou como terapia, uma vez que somos expostos a esses eventos diariamente. Outro fato que ajudou a mim e a meu marido foi o diagnóstico do nosso filho. Até então não sabíamos que éramos ambos autistas… Meu marido é médico veterinário e segue rigidamente as regras e rotinas, o que o torna um funcionário exemplar na função de médico veterinário. Além da experiência pessoal com o autismo, o nosso foco, a persistência em fazer as coisas conforme as regras levam a maior credibilidade em nossos projetos profissionais, como a criação da Clínica Escola Mundo Autista.

Em todas as partes do mundo existem profissionais da saúde física e mental, médicos e cirurgiões, com autismo. São pessoas altamente capazes que sobreviveram os desafios que encontraram na infância e adolescência, principalmente, quando autismo era considerado sinônimo de deficiência intelectual. Estas pessoas, homens e mulheres, cresceram sem diagnóstico, acreditando serem estranhos, sofrendo para integrar-se ao circulo onde tinham que estar. Graças a sua alta intelectualidade e capacidade cognitiva, conseguiram graduar-se em profissões de prestígio – como são os médicos e cirurgiões. Estes últimos, obviamente, sem limitações da motricidade fina.
Médicos autistas existem e são tão capazes quanto colegas sem autismo. Não é exceção que sejam mais capazes, até, devido aos talentos também atribuídos aos autistas como, entre outros:
Memória fotográfica
Hiperfoco
Detalhismo
Capacidade de reconhecer sintomas de autismo em seus pacientes
Pragmatismo
Sinceridade
Talvez seja questão de tempo até que médicos de outros países, a exemplo da Holanda, reúnam-se em Associações com a finalidade de desmistificar o conceito retrógrado de que exercer a profissão da Medicina e outras do setor da Saúde e Bem-Estar seja privilégio de pessoas neurotípicas (não autistas).
Apesar da simpatia e sociabilidade serem belas características num profissional da saúde, o paciente sempre irá esperar por um médico competente, ainda que menos sociável.
Fatima de Kwant é jornalista radicada na Holanda desde 1985, mãe de um autista adulto, Especialista em Autismo & Desenvolvimento e Autismo & Comunicação. Escritora de textos sobre o Espectro do Autismo e palestrante internacional, defende os direitos dos autistas pelo mundo, através do Projeto Autimates.