terça-feira, 10 de maio de 2016

Capoeira para pessoas com necessidades epeciais

Capoeira é usada como esporte de 




reabilitação para deficientes físicos



Atividade é praticada em centro de reabilitação, localizado em Teresina (PI). Professor garante: 'Não é moleza, capoeira igual a qualquer lugar do mundo'

A capoeira é famosa por sua ginga, acompanhada de movimentos acrobáticos e coreografados de quem está participando da roda. Por isso mesmo pode parecer surpreendente saber que um grupo de crianças e jovens com dificuldades motoras praticam o esporte no Centro Integrado de Reabilitação (CEIR), espaço voltado para a recuperação de pessoas com deficiência física ou motora em Teresina (PI). O professor Childerico Robson, responsável pela atividade, garante:  Não tem moleza não, aqui é capoeira como em qualquer lugar do mundo.
As aulas de capoeira são praticadas desde a inauguração do espaço, há cinco anos, todas as sextas-feiras. O esporte é utilizado como ferramenta de reabilitação para os deficientes, melhorando a coordenação motora, a força e o equilíbrio. Mas o principal efeito, como conta o instrutor Childerico Robson, é psicológico.
Capoeira no Ceir (Foto: Wenner Tito)
 A interação social melhora muito, junto com a autoestima, a gente consegue libertar o ser aqui. Geralmente eles chegam contidos, mas se soltam e aí o céu é o limite – conta.
Os treinos seguem o ritmo e a filosofia de qualquer roda de capoeira. Childerico lembra que geralmente os alunos começam receosos, com medo de cair ou não conseguir fazer os movimentos, algo que fica para trás com o passar do tempo.
- A capoeira exige muito do corpo. Nem todo mundo tem a mesma flexibilidade, então é preciso trabalhar dentro dos próprios limites, e isso é em qualquer roda de capoeira. Aqui eles aprendem a conviver com as próprias limitações e com as dos outros também – afirma.
Mas engana-se quem pensa que por respeitar os limites o instrutor está falando em pegar leve. Childerico fala durante todo o treino. E fala alto. Cobra, gesticula, manda repetir o movimento. Como ele mesmo diz, apesar de ser usada para reabilitação, a atividade que acontece ali não é nenhum tipo de terapia, é capoeira mesmo.
- Para mim o pior deficiente é quem não vê o que eles podem fazer e acha que eu tenho que ficar alisando, dando beijinho e pegando na mão. Aqui tem exigência, é capoeira como em qualquer lugar do mundo – diz.
Os resultados são vistos no dia a dia dos alunos. Hélio Jansen tem 26 anos e nasceu com uma deficiência congênita, que atrofiou seus movimentos e o deixou em uma cadeira de rodas. Nada que o impeça de ter uma vida normal, estudando direito, dirigindo o próprio carro e, claro, praticando capoeira. Para ele, algo mais eficaz do que a própria terapia, justamente por não parecer com uma.
Capoeira no Ceir (Foto: Wenner Tito)Hélio recebe auxílio na cadeira de rodas para poder participar (Foto: Wenner Tito)
- Eu ia fazer fisioterapia e não me sentia bem. Quando disseram que não precisava mais, me indicaram uma atividade desportiva e eu escolhi a capoeira. Estou aqui há alguns meses e já percebo alguns avanços, porque é algo prazeroso, você está praticando um esporte e não só fazendo um tratamento – diz o jovem.
Alguns alunos mais jovens também são encontrados no meio da roda. É o caso de Gustavo, de apenas 6 anos, que não esconde a ansiedade ao chegar ao Centro para começar mais uma aula. Gustavo nasceu com um problema que o levou para a mesa de cirurgia antes dos dois anos de idade. Sobreviveu, mas com os movimentos seriamente comprometidos, algo que vem sendo revertido no meio do "Paranauê".
- Hoje ele já tem 70% de todos os movimentos, graças à capoeira. Quando chega o dia ele fica logo perguntando que horas eu vou levar ele, fica animado, já corre. Quem conhecia ele antes vê hoje uma diferença enorme – conta Ramiro Bacelar, pai do garoto.
Assim como Gustavo e Hélio, são muitos outros os exemplos de crianças e jovens que encontram na capoeira do Ceir uma oportunidade de serem iguais. Não privilegiados, com treinos mais leve, mas tratados no mesmo nível, praticando um esporte que, teoricamente, teria tudo para não dar certo com eles. Mais que uma atividade física ou esporte, uma lição de superação.

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