sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Daniele Galvão

DÚVIDAS FREQUENTES DE PROFESSORES DE 

DIVERSAS REGIÕES DO BRASIL


1 -    PERCEBO QUE UMA DAS GRANDES DIFICULDADES NA INCLUSÃO É A COMPREENSÃO DO CURRÍCULO ADAPTADO.
SENDO ASSIM, AS ATIVIDADES DOS ALUNOS COM DEFICIÊNCIA SÃO DIFERENTES DOS DEMAIS ALUNOS?
R: Muitos professores apresentam essa dúvida. Vejam bem, as atividades devem ser oferecidas de forma adaptada às necessidades especiais. Mas antes de pensarmos na atividade é preciso levarmos em consideração que todo aluno com necessidades educacionais especiais deve passar por uma avaliação pedagógica com o objetivo de levantar as suas reais dificuldades e aí sim elaborar estratégias para que essas dificuldades sejam superadas. O grande problema é que os professores não estão capacitados para realizar essa avaliação e isso dificulta o trabalho dentro da proposta inclusiva. O que vejo por aí é um desespero por parte dos profissionais da educação. Se eles recebem um aluno com Síndrome de Down, por exemplo, buscam saber de forma geral as possíveis dificuldades de um sujeito com a SD e acabam realizando atividades de forma muito superficial e cada um, ainda que apresentem a mesma condição, terá dificuldades diferentes.
2-O ALUNO QUE FREQUENTA A APAE PRECISA ESTAR MATRICULADO NO ENSINO REGULAR?
R: Se pensarmos na proposta de educação inclusiva entendemos que uma não substitui a outra, elas se complementam. Manter uma criança especial apenas freqüentando a APAE, sem oferecer à ela o convívio social adequado é um reforço à exclusão e isso significa manter a segregação dos deficientes e não é esse o objetivo que queremos atingir.

3-POSSO RETER UM ALUNO COM DEFICIÊNCIA OU DEVO PROMOVÊ-LO?
R: Essa questão é extremamente polêmica. Penso que pais e professores estão muito preocupados em aprovações como se isso estivesse diretamente relacionado ao sucesso escolar, como se aprovar um aluno, seja ele especial ou não, seja o atestado de sua competência profissional. Por que não pensarmos em descobrir talentos, aflorar potenciais, e desenvolver habilidades? Essa preocupação existe porquê nem mesmo os professores sabem o que devem avaliar. QUALQUER ALUNO PODE SER RETIDO DESDE QUE ELE NÃO ATINJA UMA COISA CHAMADA: COMPETÊNCIA.
Muitos pais chegam ao meu consultório dizendo que o filho foi reprovado e que ele tem dificuldades e vão processar a escola. Lamento dizer aos responsáveis que independente do aluno ser neurotípico ou especial, em ambos os casos eles podem ser retidos sim! O critério para retenção é justamente o alcance das competências esperadas para idade ou aquilo que é esperado dentro das condições especiais daquele sujeito. Porém, quando partimos para realidade, deparamos com uma escola que não avaliou as necessidades especiais do aluno, não montou um plano de ação pedagógico, quando questionamos quais competências deveriam esperadas dentro das necessidades especiais daquele aluno a escola simplesmente não sabe se posicionar e isso faz com que ela fique sem respaldo e argumentos diante da necessidade de uma reprovação.
4-MEU ALUNO COM DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM NÃO CONSEGUE TERMINAR UMA ATIVIDADE ANTES DE PASSAR PARA OUTRA.  COMO APRESENTAR O NOVO CONTEÚDO PARA UM ALUNO COM DIFICULDADES?
R: Em primeiro lugar é preciso saber que tipo dificuldade essa criança apresenta. Deixar tarefas inacabadas é uma característica bem típica dentro do quadro de sintomas de TDAH. Considerando essa questão como a maior dificuldade, procure oferecer atividades bem objetivas, com enunciados curtos, atividades que não levem muito tempo para execução. Lembre-se: TDAH se assusta com volume de tarefas! Quanto a oferecer um novo conteúdo, busque ser mais dinâmica, envolva emoção nos conteúdos apresentados para gerar significado, incentive, ofereça recompensas emocionais (estrelinhas, corações). Alunos com TDAH necessitam de reforço positivo e encorajamento. Utilize recursos diferenciados: audiovisuais, trabalhe de forma mais concreta possível. Faça modificações no ambiente colocando-o mais próximo do quadro para que não prejudique sua atenção sustentada. O segredo do aprendizado do TDAH está na MOTIVAÇÃO.

5-O QUE DEVO PROPOR AO ALUNO QUE TEM TDAH? O MESMO ASSUNTO DA TURMA OU OUTRO?
R: Professores, TDAH não está enquadrado na modalidade de Educação Inclusiva. O conteúdo a ser trabalho deve estar de acordo com a proposta da classe, conforme as diretrizes e bases da educação. O TDAH não altera a condição intelectual do sujeito e é importante ressaltar essa questão. TDAH NÃO É TRANSTORNO DE APRENDIZAGEM! A dificuldade de aprendizagem é uma conseqüência da desatenção e hiperatividade e o papel do professor é elaborar estratégias a fim de minimizar esses efeitos, conforme explicado acima.

6-COMO POSSO AVALIAR UM ALUNO COM TDAH?
R: Criar avaliações diferenciadas ou modificar, ampliar, diversificar a aplicação da avaliação, dar tempo extra para que o aluno faça a avaliação, reduzir o tamanho da atividade avaliativa, dividi-la em partes e ajudar o aluno a manter o foco durante a resolução das questões, observação e o acompanhamento do cotidiano da sala de aula, devem prevalecer em relação às provas periódicas.
7- COMO INCLUIR UM ALUNO NUMA CLASSE REGULAR SE ELE VAI FAZER UMA OUTRA ATIVIDADE COM UM MEDIADOR? ELE FICARÁ APENAS AOS OLHOS DA INCLUSÃO?
R: Eu percebo uma confusão muito grande quanto ao real trabalho do mediador. O mediador é um intermediário nas questões sociais e de comportamento, na comunicação e linguagem, nas atividades e/ou brincadeiras escolares, e nas atividades pedagógicas, nas limitações motoras ou da leitura, nos diversos níveis escolares. ELE NÃO PODE E NÃO DEVE SUBSTITUIR O TRABALHO DO PROFESSOR.  Sua atuação está no desenvolvimento de um trabalho em parceria com o regente da turma amparando seu mediado. Todas as atividades que são propostas para classe deverão ser realizadas pelo aluno especial com a orientação da professora regente e seu mediador como um facilitador. Deixar um aluno especial a margem da turma, em isolamento com o mediador não é INCLUSÃO.
8-NO CASO DA INCLUSÃO, O CONTEÚDO DA ATIVIDADE É O MESMO DA TURMA? SÓ ADAPTA DE ACORDO COM A NECESSIDADE?
R: Vamos entender primeiramente que Inclusão Escolar é diferente de Inclusão Social.
A Inclusão Escolar é caracterizada na mudança e adaptação daquilo que precisa ser ensinado de modo atender as necessidades educacionais especiais. Portanto, não falamos em conteúdos diferenciados e sim de métodos, recursos, estratégias. Darei um exemplo para que entendam: Posso estar numa turma de sexto ano trabalhando no 4 ano do ensino fundamental o sistema digestório e com meu aluno especial oferecer esse conteúdo através de pranchas com o desenho dos órgãos e auxiliá-lo a modelar com massinha e em seguida montarmos todos os sistema. Trata-se de uma atividade lúdica que chamará atenção, não apenas dele, mas de toda turma e que tal propor que todos juntos montem o sistema digestório modelando? Além de promover a Inclusão Escolar através da adaptação de um conteúdo, estaremos promovendo a Inclusão Social inserindo essa criança no grupo. Sem contar que além do conteúdo outras habilidades estão sendo desenvolvidas como construção de sensação, percepção tátil, coordenação motora e viso motora. Tudo é possível, basta querer.

9-COMO UM PROFESSOR PODE DETECTAR SE SEU ALUNO ESTÁ COM DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM?
R: Para que um professor possa identificar uma dificuldade é necessário que ele se aproprie do conhecimento acerca do desenvolvimento infantil, seus estágios cognitivos, o que é esperado para cada etapa do desenvolvimento. Muitas crianças não apresentam dificuldades, mas o professor por falta de conhecimento acaba cobrando aquilo que está além da idade daquela criança e supõe ser uma dificuldade instalada. Muitas crianças estão sendo encaminhadas para clínica psicopedagógica aos 5 anos de idade  com queixa de dificuldade de alfabetização. A dificuldade pode ser detectada em qualquer estágio da vida do sujeito, desde que seja levado em consideração aquilo que é esperado para idade. Segue abaixo uma lista de sinais que merecem atenção:
·         esquecimento;
• dificuldades de expressão lingüística;
• inversão de letras (escrita do nome em espelho);
• dificuldades em relembrar as letras do alfabeto;
• dificuldades em recuperar a seqüência das letras do alfabeto;
• dificuldades psicomotoras (tonicidade, postura, lateralidade, somatognosia, estruturação e organização do espaço e do tempo, ritmo, praxia global e fina, lentidão nas auto-suficiências);
• dificuldades nas aquisições básicas de atenção, concentração, interação e imitação;
• confusão com pares de palavras que soam iguais (por exemplo: nó-só; tua - lua, vaca-faca; etc.);
• dificuldade em nomear rapidamente objetos e imagens;
• dificuldades em reconhecer e identificar sons iniciais e finais de palavras simples;
• dificuldades em juntar sons (fonemas) para formar palavras simples;
• dificuldades em completar palavras e frases simples;
• dificuldades em memorizar e reproduzir números, sílabas, palavras, frases, pequenas histórias, lengalengas, etc.
• relutância em ir à escola e em aprender a ler;
• sinais de desinteresse e de desmotivação pelas tarefas escolares;
• dificuldade em aprender palavras novas;
• dificuldades em identificar e nomear rapidamente letras e sílabas;
• dificuldades grafomotoras (na cópia, na escrita, no colorir e no recortar de letras);
• dificuldades com sons de letras (problemas de compreensão fonológica);
• memória fraca;
• dificuldades psicomotoras;
• perda freqüente e desorganização sistemática dos materiais escolares, etc.
• problemas de comportamento e de motivação pelas atividades escolares;
• frustração e fraca auto-estima;
• problemas de estudo e de organização;
• fracas funções cognitivas de atenção, processamento e planificação;
• fraco aproveitamento escolar;
• pode evidenciar habilidades fora dos conteúdos escolares;
• dificuldades em concluir os trabalhos de casa;
• hábitos de leitura, de escrita e de estudo muito vagos;
• fraco conhecimento global;
• mais tempo para terminar testes ou avaliações escritas;
10- COMO IDENTIFICAR E ENCAMINHAR UM ALUNO COM ALTAS HABILIDADES/ SUPERDOTAÇÃO?
R: Pessoas com AH/SD são caracterizadas pela elevada potencialidade de aptidões, talentos e habilidades, evidenciada no alto desempenho nas diversas áreas de atividade do educando e/ou a ser evidenciada no desenvolvimento da criança. Contudo, é preciso que haja constância de tais aptidões ao longo do tempo, além de expressivo nível de desempenho na área de superdotação.
A Política Nacional de Educação Especial define como altas habilidades / superdotados os aqueles que apresentarem notável desempenho e elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados: capacidade intelectual geral; aptidão acadêmica especifica; pensamento criativo ou produtivo; capacidade de liderança; talento especial para artes e capacidade psicomotora. Segue abaixo uma lista de características que ajudam na identificação:
•Grande curiosidade a respeito de objetos, situações ou eventos, com envolvimento em muitos tipos de atividades exploratórias;
• Tendência a começar sozinho as atividades, a perseguir interesses individuais e a procurar direção própria;
• Originalidade de expressão oral e escrita, com produção constante de respostas diferentes e idéias não estereotipadas;
• Talento incomum para expressão em artes, como música, dança, teatro, desenho e outras;
• Habilidade para apresentar alternativas de soluções, com flexibilidade de pensamento;
• Abertura para realidade, busca de se manter a par do que o cerca, sagacidade e capacidade de observação;
• Capacidade de enriquecimento com situações-problema, de seleção de respostas, de busca de soluções para problemas difíceis ou complexos;
• Capacidade para usar o conhecimento e as informações, na busca de novas associações, combinando elementos, idéias e experiências de forma peculiar;
• Capacidade de julgamento e avaliação superiores, ponderação e busca de respostas lógicas, percepção de implicações e conseqüências, facilidade de decisão;
• Produção de idéias e respostas variadas, gosto pelo aperfeiçoamento das soluções encontradas;
• Gosto por correr risco em várias atividades;
 • Habilidade em ver relações entre fatos, informações ou conceitos aparentemente não relacionados,
• Aprendizado rápido, fácil e eficiente, especialmente no campo de sua habilidade e interesse.
• Necessidade de definição própria;
• Capacidade de desenvolver interesses ou habilidades específicas;
• Interesse no convívio com pessoas de nível intelectual similar;
• Resolução rápida de dificuldades pessoais; • Aborrecimento fácil com a rotina;
• Busca de originalidade e autenticidade; • Capacidade de redefinição e de extrapolação; • Espírito crítico, capacidade de análise e síntese;
• Desejo pelo aperfeiçoamento pessoal, não aceitação de imperfeição no trabalho; • Rejeição de autoridade excessiva;
• Fraco interesse por regulamentos e normas;
• Senso de humor altamente desenvolvido;
• Alta-exigência;
• Persistência em satisfazer seus interesses e questões;
• Sensibilidade às injustiças, tanto em nível pessoal como social;
• Gosto pela investigação e pela proposição de muitas perguntas;
• Comportamento irrequieto, perturbador, importuno;
• Descuido na escrita, deficiência na ortografia; • Impaciência com detalhes e com aprendizagem que requer treinamento;
• Descuido no completar ou entregar tarefas quando desinteressado.
Caso a escola identifique um caso de AH/SD o encaminhamento para um Psicólogo/ Neuropsicólogo e um Psicopedagogo ou Neuropsicopedagogo é imprescindível para avaliação das habilidades cognitivas e avaliação comportamental, cada qual dentro da sua área de especificidade.


Psicopedagoga Clínica e Institucional
Neuropsicopedagoga
Esp. em Distúrbios e Transtornos de Aprendizagem
Bióloga com aperfeiçoamento em Neurobiologia/ Neurociências
Psicanálise em formação
Professora de Ensino Superior





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