terça-feira, 3 de maio de 2016

Autismo



Vamos falar sobre o autismo?
Estima-se que o Brasil tenha 2 milhões de autistas. São quase 25 estádios de futebol como o Mané Garrincha, em Brasília, lotados. Este número, apesar de alarmante, pode até ser maior, já que por aqui não existem pesquisas recentes sobre o assunto. Para se ter uma ideia, nos Estados Unidos, a cada 68 crianças que nascem, uma tem TEA (Transtorno do Espectro do Autismo).
“Não se fala mais em autismo e, desde 2013, a denominação correta é TEA, de acordo com o DSM5, que é um manual de diagnóstico de transtornos mentais”, explica Fabiane Biazus psicopedagoga especializada em Educação Especial.
Para que mais e mais pessoas tenham acesso a informações sobre o transtorno, a Organização das Nações Unidas (ONU) definiu, em 2007, que o dia 02 de abril é o Dia Mundial da Conscientização do Autismo. Nesta data, diversos monumentos no mundo todo são coloridos de azul e, quem quer demonstrar apoio à causa, se veste de azul.
Existem alguns sinais de alerta para o TEA, como aparente falta de interesse, risadas sem razão e ausência de contato visual. E foi exatamente isso o que chamou a atenção de Bianca da Luz, 30 anos, para a possibilidade de o filho Erick ser portador do TEA.
“Percebi muito cedo, logo nos primeiros meses, que o Erick não me olhava durante a mamada. Justo naquele momento tão rico e único, ele olhava para os meus cabelos, minha roupa. Menos nos olhos. Às vezes olhava quando chamávamos pelo nome, às vezes não. Mas logo depois de ele completar um aninho, ficou muito clara a diferença dele e da irmã, Bárbara, que é 1 ano e 8 meses mais velha. Ele quase nunca respondia quando chamado, ria sozinho, não olhava nos olhos, não brincava com a mana”, conta Bianca.
Mesmo com os sinais aparentes, Bianca hesitou em procurar ajuda. “Uma criança é sempre diferente da outra e isso me consolou por algum tempo, achei que fosse uma fase, que iria passar. Até o dia que ele brincava na sala e, de repente, sumiu. Chamei, chamei, procurei, a mana também procurou e nada. Até que a Bárbara chamou ‘mamãe, achei!’. Ele estava embaixo de uma mesinha, estático, sem piscar, virado para a parede. Chamava e ele não reagia. Ali percebi que não podia mais negar. Precisávamos de ajuda.”
Com 1 ano e 8 meses, Erick recebeu o diagnóstico. “Antigamente, era comum o diagnóstico ser feito por volta dos 3 anos, que é quando a criança percebe a outra e o TEA acabava não percebendo. Hoje está muito fácil, existem crianças que são diagnosticadas com 1 ano e 10 meses, mas a maioria com 2 anos – porque é quando a criança deveria começar a falar e não fala”, explica Fabiane.
Existem alguns sintomas (veja o quadro) que são sinais de alerta para que as pessoas identifiquem essas características nas crianças. “Não significa que ela é TEA, mas, caso a criança apresente estas características, deve procurar auxílio e tratamento, porque algo tem” alerta a psicopedagoga.
sinais de alerta
Feito o diagnóstico do TEA, o tratamento é multiprofissional: conta com fonoaudióloga, terapeuta ocupacional e psicopedagoga, entre outros. Há também grandes avanços que já foram comprovados com musicoterapia, natação e equinoterapia.
Hoje, Erick tem 3 anos. Três vezes por semana, frequenta a escola especial, com atendimento intercalado entre fonoaudióloga, terapeuta ocupacional, psicóloga e pedagoga. E, todas as tardes, vai na escolinha regular, onde convive com crianças típicas da idade dele – contando com a ajuda de uma monitora para que ele não se isole da turma.
“Graças ao diagnóstico precoce e aos profissionais que cruzaram nosso caminho, o Erick já evoluiu muito. Já olha nos olhos, responde quando chamado 90% das vezes, já responde à dor e tenta bravamente a interação com a Bárbara e outras crianças, mesmo que precise se isolar um pouco depois, em forma de refúgio, para descansar de tantos estímulos”, conta Bianca.
Alertar para o diagnóstico precoce talvez seja a maior tarefa do dia 02 de abril. “Este dia é importante para chamar a atenção, para que a gente possa ter mais pesquisas, para o diagnóstico precoce, para a inclusão”, comenta Fabiane.
Para os pais de crianças com TEA, a dica da psicopedagoga é “não esperem que o trabalho seja feito só dentro do consultório, essas crianças têm que ser trabalhadas dia a dia, para que elas possam ter uma vida digna, sejam cada vez mais independentes e convivam em sociedade”.
Conviver em sociedade, que parece tão simples, é um dos maiores desafios para Bianca. “Temos muitos dedos apontados no lugar de mãos estendidas e isso, só isso, é o que torna nossos dias mais difíceis. Sempre que o Erick tem algum comportamento como falta de paciência ou fica nervoso por conta de uma música alta no supermercado, por exemplo, e escuto comentários maldosos ou vejo caretas, gostaria de dizer que o meu filho tem autismo e tem muita vontade de viver no nosso mundo, mas a dificuldade de interação e a falha da comunicação não permitem. Gostaria de dizer que, se nós tivéssemos tido a chance de conviver com crianças especiais, como nossos filhos têm hoje com a política de inclusão, seríamos pessoas melhores, mais tolerantes e preparadas para lidar com essa sociedade de pessoas muito diferentes”.

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